
Estou muito feliz. Há tempos não vejo o SBT colocar no ar uma produção tão bacana quantoCarrossel. Não que Corações Feridos tenha sido de todo ruim, mas a trama passou praticamente em branco, não fossem as boas atuações de Ronaldo Oliva e Flávio Tolezani.Carrossel, não. É um acerto em todas as frentes: texto, produção técnica, elenco… Até a abertura, quesito em que normalmente a emissora não dá uma dentro, é ótima. Uma fofura muito bem desenvolvida e totalmente em harmonia com a história. Iris Abravanel atinge sua maioridade como autora, fazendo uma adaptação primorosa, fiel à produção original, mas repleta de características nacionais. No primeiro capítulo, ela fez uma excelente apresentação dos personagens, marcando bem cada um dos alunos protagonistas do terceiro ano da Escola Mundial. E também os adultos… Rosanne Mulholland está ótima como a mitológica Professora Helena: doce, suave, mas firme nos momentos certos. Ou seja: uma pessoa normal. E serve de contraponto para o divertido exagero da diretora Olívia (Noemi Gerbelli).
O elenco infantil é um achado. Dou um ligeiro
destaque para Larissa Manoela (como a insuportável Maria Joaquina), Maísa Silva
(a esperta Valéria) e Lucas Santos (o delinquente Paulo). Mas faço questão de
citar todos os pequenos talentos: Gustavo Daneluz (Mario), Ana V. Zimmermann
(Marcelina), Matheus Ueta (Kokimoto), Nicholas Torres (Jaime), Aysha Benelli
(Laura), Fernanda Concon (Alícia), Stefany Vaz (Carmen), Thomaz Costa (Daniel),
Victória Diniz (Bibi) e Guilherme Seta (Davi). Faço um pequeno senão para Jean
Paulo Campos, que faz o meigo Cirilo. Por vezes, parece que o menino está
anestesiado e fala tudo muito decorado. Mas espero que seja apenas nervosismo e
inexperiência e que logo ele entre no pique dos colegas, já que Cirilo é um
personagem tão importante à trama.
A produção de arte caprichou na cor e os
cenários ficaram bem bonitinhos… Só acho que um menos ali seria mais. Tem
núcleos, como o quarto da Valéria, que parece cegar a gente a qualquer momento
com tanta cor e informação. Mas, no geral, tudo é bem bacana. Curti demais
também os recursos gráficos que surgem na tela em algumas cenas, como os
corações em volta de Cirino quando ele se apaixonou à primeira vista por Maria
Joaquina e os cifrões nos óculos da diretora ao conhecer a nova aluna rica da
escola. Ficou parecendo desenho animado. Muito legal!
Mas importante mesmo é a forma delicada, digna
e eficiente com que Iris tem abordado temas complexos, como racismo, conflitos
sociais, bullying, competitividade exarcebada… Ela vem tratando com
distanciamento, sem demonizar ninguém. Uma cena marcou bem essa opção. Na mesa
de almoço, Maria Joaquina conta a seus pais Miguel (Fábio Di Martino) e Clara
(Adriana Del Claro), que tem um menino negro em sua sala e que ela não foi com a
cara dele. E que o garoto não é da sua laia… O médico tenta mostrar à menina que
não é porque Cirilo é “diferente”, ele é menos humano ou merece menos respeito
do que ela. Mas a pequena estava irredutível em seu preconceito e Miguel
preconiza que “a vida irá lhe dar uma lição, minha filha”. Essa sequência
mostrou que Maria Joaquina tem um pai consciente e uma mãe omissa, mas nada
preconceituosa, só que, mesmo assim, desenvolveu essa intolerância racial
horrosa. E que os pais – por mais que tentem – se sentem incapacitados de abrir
a mente e o coração da filha para o sentimento horrível que está nutrindo pelo
menino negro.
É uma questão muito complicada e que será
resolvida com a ajuda de uma professora dedicada como Helena. E a gente fica
pensando: que maravilha seria se pais e professores – na vida real – também
conseguissem convergir para um mesmo propósito e não ficar jogando nas costas do
outro, um do outro, a responsabilidade pela educação e civilização das crianças.
Quem sabe Carrossel não ajuda a fomentar essa
ideia?
Para completar, quero citar ainda a ótima
trilha sonora da novela. O lindo tema de
abertura,Carro-Céu, é interpretado pela dupla Priscila
Alcântara e Yudi Tamashiro (do Bom Dia & Cia) e Priscila cana
ainda A Ciranda da Bailarina, do mestre Chico Buarque. Já a
apresentadora Eliana gravou uma versão do clássico To Sir With
Love: Ao Mestre Com Carinho. E tem ainda outros
sucessos: Aquarela (Toquinho), Não é Proibido (Marisa
Monte),Sonhos Pra Quem Sonha (Simony), Os Super Heróis (MPB4),
além de Espelho (Patrícia Marx), Varinha de Condão (Maisa
Silva), Fico Assim Sem Você (Roberta Tiepo) e Beijo, Beijinho
Beijão (Larissa Manoela), entre
outras. Carrossel é uma fofura sim e não fica nada a
dever a seu original, que marcou toda uma geração quando foi exibida pelo mesmo
SBT em 1991. Parabéns!
Lívia Andrade interpreta Suzana, a substituta
de Helena e tenta arrebatar o coração das crianças e fará de tudo para ocupar o
posto da titular do cargo e conquistar Renê (Gustavo Wabner), que substituiu a
professora de música Matilde (Ilana Kaplan) após a mesma abandonar o cargo por
causa das travessuras dos alunos do terceiro ano. Conta com a diretora Olívia
(Noemi Gerbelli), o adorável jardineiro Firmino Gonçalves (Fernando Benini) e
uma participação da supervisora Bernadete (Cris Poli).
Fonte: Jorge Brasil (Contigo Online)
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